Para quem não sabe – e também para quem já tem familiaridade com o assunto e acredita, assim como eu, que é sempre tempo de retomá-lo -, junho é o mês do orgulho LGBTQIA+.
O mês é marcado assim graças à rebelião de Stonewall Inn, fato ocorrido em 1969, quando frequentadores do bar de mesmo nome se rebelaram contra a opressão policial. Pesado, né?
Mas saiba que esse evento potencializou o ativismo LGBTQIA+ em todo o mundo e contribuiu bastante para uma transformação progressiva na atenção que instituições e organizações sociais dão a ele.
Um dos resultados disso é que assuntos ligados ao universo LGBTQIA+ pautam a agenda de negócios que se pretendem modernos e inovadores.
De Stonewall Inn até aqui, ainda existem empresas que não se interessam em entender qual o seu papel no que diz respeito aos direitos LGBTQIA+.
Mas é preciso celebrar quem vem produzindo ações significativas para promover a diversidade e combater a LGBTfobia, assim como outros tipos de intolerância, dentro de suas estruturas. Yey!
Por isso, pode-se dizer que o tema diversidade abrange mais que uma luta contra a opressão sexual. Ela tem se fincado como uma bandeira de empresas que têm propósito e querem expandir mercados e o modelo de consumo entre pessoas negras, indígenas, trans, com deficiência e assim por diante.
Deu pra entender então porque estamos aqui querendo conversar com você sobre este tema, profissional, CEO, gestor ou estudante?
Quem sabe assim, entendendo todos juntos sobre diversidade, conseguimos promover organizações mais plurais? Continue lendo e, ao final, contribua com o seu comentário ou compartilhe com quem também possa se interessar pelo assunto.
O que é diversidade
Se você abrir um dicionário agora mesmo (sim, ainda tem gente que faz isso) ou mesmo “dar um google” na palavra diversidade, você irá encontrar algo como:
substantivo feminino
- qualidade daquilo que é diverso, diferente, variado; variedade.
- conjunto variado; multiplicidade.
Mas o que realmente queremos dizer quando falamos sobre diversidade? E principalmente: quando falamos sobre empresas diversas?
Falar sobre diversidade é falar sobre inclusão, sobre abrir portas, espaços e oportunidades para que todos estejam presentes na discussão e na construção de algo.
É sobre abranger visões, culturas, religiões, gêneros, sexualidades, raças e outras pautas na conversa, sem barreiras de entrada.
Quando trazemos essa discussão para empresas e negócios, de forma prática, nos referimos a ocupar e distribuir os lugares dessas organizações de modo a abraçar ao máximos perfis diversos.
E uma organização realmente diversa não apresenta nenhuma predominância específica de perfil no seu corpo de colaboradores. Ou pelo menos se mobiliza e luta para que não tenha.
O que NÃO é diversidade?
Para discutir ainda mais sobre diversidade e pluralidade, é importante trazer para a conversa seu oposto.
Ou seja, ambientes onde a diversidade não existe.
Mas o que seria isso?
Calma, vamos pelo exemplo! Analise bem uma foto de formandos no curso de Medicina e responda quantas pessoas negras ou gordas, ou com deficiência você encontra. Difícil, né?
Outro caso: quando conferimos a lista de maiores empreendedores da década, certamente só encontramos homens (em sua quase que absoluta maioria também branca).
Mais um: quando conferimos todo catálogo das emissoras de TV aberta, praticamente não encontramos uma pessoa LGBTQIA+.
O que todos esses casos têm em comum? A sua homogeneidade de perfil. E, enquanto um único perfil tem acesso a esses lugares, a desigualdade segue. Dificilmente o quadro muda e é aqui que entram em discussões os grupos de minorias.
Seguindo os exemplos comentados, enquanto grupos minorizados continuam não acessando esses espaços:
- Negros continuam sendo maioria entre a população mais pobre do Brasil.
- Mulheres continuam recebendo menos do que homens mesmo atuando na mesma posição, além de serem maioria na taxa de desemprego.
- E pessoas LGBTQIA+ continuam sendo perseguidas, ou vivendo às sombras da sociedade como o caso de mulheres trans cuja única saída acaba sendo a prostituição.
Percebe?
Diversidade significa se mobilizar para lutar contra esse cenário. Se você constrói ambientes realmente plurais você começa a mobilizar essa estrutura. Dando maiores oportunidades para que todos consigam construir novos futuros e realidades.
E essas perguntas, por vezes óbvias, como “o que é diversidade” de verdade, se faz muito importante. Principalmente para agregarmos uma camada crítica com relação ao quanto nossa sociedade está a colocando em prática.
Além de, claro, entender e exigir que as empresas e instituições a nossa volta as sigam.
Então vamos aprofundar ainda mais nessa discussão?
Por que discutir pautas como gênero, raça e sexualidade na empresa
Nas empresas, a diversidade tem seu caráter plural mais perceptível, uma vez que pode inspirar novos modos de pensar e fazer, promover identificações menos pasteurizadas para seus consumidores, garantir maior senso de pertencimento e agregar mais valor às suas marcas.
Tudo isso, obviamente, levando em conta que diversidade não é um passe de mágica e que, para ela se consolidar, uma empresa precisa refletir propósito.
Essa proposta é bastante otimista do ponto de vista da disrupção, mas nem sempre é levada de forma tão aprofundada. Não é à toa que algumas organizações incorrem em pequenos e graves equívocos.
Segundo o professor e pesquisador Pablo Moreno, “diversidade não é chamar uma pessoa gay, uma pessoa gorda, chamar uma pessoa preta, outra pessoa com deficiência para compor uma equipe. Vale pensar em quantas pessoas negras compõem o país, a cidade ou algo do tipo. 50%? Então, preciso ter 50% de pessoas negras na minha empresa”.
O professor se refere à inclusão de uma pessoa de cada minoria social em times, uma prática rasa que é comumente adotada por organizações que se fazem parecer diversas.
Outro mau exemplo são negócios que exploram o marketing diverso em datas icônicas, sendo que suas estruturas internas não refletem o discurso propagado. É o famoso “feito para lacrar”, mas que a gente percebe claramente o quanto é discurso vazio.
O principal caminho para fugir dessas práticas sem autenticidade é aprofundar a discussão sobre gênero, raça e sexualidade. É levar esse tipo de discussão que estamos tendo aqui para sua sala de aula, seu empresa, seu gestor, e por aí vai.
É também estudar, aprofundar as camadas das políticas de inclusão e dar fim no ativismo de fachada e realizar ações recorrentes e a longo prazo.
Qual o compromisso de uma empresa diversa
Você já ouviu falar no Fórum das Empresas e Direitos LGBT? Ele dispõe de uma espécie de manual que elenca 10 compromissos da empresa amiga LGBT.
As orientações são bem básicas e recomendamos que quem tiver curiosidade acesse o site e leia mais artigos sobre. Trazemos ele aqui como um exemplo de compromisso com a diversidade.
Pois, embora voltado para um recorte da população, seu cerne lembra que diversidade perpassa pela educação, pelo respeito, pelo desenvolvimento social e econômico, e principalmente pelo engajamento vertical de presidentes, diretores e executivos; e horizontal, de funcionários, parceiros, fornecedores etc.
Ou seja, a diversidade nas empresas é para incluir todos, e não uma mera ação de lacração.
Ela exige ambientes propícios para uma convivência segura e saudável para pessoas de descendência racial, código sociocultural, acessibilidade, gênero e orientação sexual diversas.
E isso só se torna real quando uma empresa se compromete a aprofundar a diversidade em todas as suas camadas gerenciais e culturais.
Por que a sua empresa precisa apostar na diversidade
Segundo estudo sobre diversidade realizado pela consultoria McKinsey and Co empresas que apresentam maior diversidade de gênero têm 21% mais chances de apresentar resultados acima da média do mercado em relação as empresas com menor diversidade.
O estudo realizado em 12 países mostra que as empresas com times de executivos com maior variedade de perfis são mais lucrativas.
Em outra pesquisa, desta vez levantada pela Forbes, 85% das empresas com receita de mais de US$ 500 milhões concordam que a diversidade impulsiona a inovação.
Como a gente gostou da ideia de trazer dados, vamos adicionar só mais estes: o potencial de compra do público LGBTQIA+ no Brasil é estimado em R$ 420 bilhões, o que representa 10% da produção de riquezas no país segundo a consultoria americana Out Leadership; enquanto isso, pessoas negras movimentam mais de R$ 1,5 trilhão por ano no país.
Enfim, estamos falando de consumo, mas principalmente de pessoas que estão cada vez mais exigentes sobre seus direitos nos mercados.
Esses dados se atualizam e ganham mais força em um cenário de crise como este que vivemos hoje. Pois a diversidade também diz sobre o sentimento de pertença dos seus funcionários na organização. e de engajamento deles nas soluções para que a empresa seja mais competitiva.
E serve como um ótimo balizante para que as empresas entendam a importância de trabalhar a diversidade.
Bom, a conversa foi boa até aqui. Nós curtimos bastante e prometemos trazer mais assuntos instigantes assim. Enquanto isso, confira o nosso ebook “Organizações Plurais” e quebre ainda mais barreiras com as reflexões que ele propõe.
E aproveite também para assinar a nossa newsletter. Vamos enviar novidades quentinhas para o seu e-mail em breve.